sábado, 23 de fevereiro de 2013

“Eu sou uma força do passado”, poema de Pasolini




Eu sou uma força do passado
Só na tradição está o meu amor.
Venho das ruínas, das igrejas,
das peças de arte de altar, das
aldeias abandonadas sobre os Apeninos ou sobre os pré-Alpes,
onde viveram os irmãos.
Deambulo pela Tusculana como um louco,
Pela Apia como um cão sem dono.
Ou olho os crepúsculos, as manhãs
sobre Roma, sobre a Ciociara, sobre o mundo,
como os primeiros atos da Pós-história,
aos quais assisto, por privilégio de registo civil,
da orla extrema de alguma idade
sepulta. Monstruoso é quem nasceu
das entranhas de uma mulher morta.
E eu, feto adulto, navego
mais moderno do que todos os modernos
a procurar irmãos que não existem mais.

Poesia de Pasolini, inserta no filme La Ricotta (O requeijão), e também na obra Poesia em forma de rosa, 1964

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