terça-feira, 6 de novembro de 2012

"O leitor tem apenas de ver e de ouvir",Irène Némirovsky


A frase do título consta no Caderno da judia Irène Némirovsky, nas notas manuscritas sobre o estado da França durante a Ocupação pelos nazis, no âmbito do seu projeto de escrita do romance Suite française.
Este fato revela que a autora tinha a intenção de dar a ver, na obra que estava a escrever, os acontecimentos desse período de exílio e de extermínio dos judeus.
Por esta razão, a obra é um testemunho de uma testemunha repassado de pungente verdade humana, pela vivência inerente à imersão da autora no espaço e no tempo do vórtice da destruição.
Quem foi Irène Némirovsky?
Nascida em Kiev em 1903, Irène Némirovsky era filha dum banqueiro ucraniano e foi forçada ao exílio após a Revolução Russa. Quando, depois de meses de peregrinação pela Finlândia e Inglaterra, chega a França, desejou virar a página e fruir a existência.
Amante da literatura, publicou em 1929 o seu primeiro romance, David Golder, tendo imediato reconhecimento por parte de vários escritores da época: Jean Cocteau, Françoise Sagan, Drieu La Rochelle… Outras obras se seguirão.
Tomando consciência de que a espada de Dâmocles se iria abater sobre a sua cabeça, decide continuar a escrever como testemunho do que observa à sua volta e do que ela própria experiencia.
É assim que nasceu o seu romance Suite française, que permaneceu manuscrito até ser descoberto em 1975, sendo depois publicado em 2004 por iniciativa de uma das filhas, Denise Epstein.
A primeira parte, “Tempestade em junho”, é uma narrativa que apresenta a odisseia de várias famílias em fuga, descrevendo as relações sociais entre os personagens e as suas diferentes maneiras de estar e valorar: o fanatismo, a ganância, o culto da aparência, o egoísmo, o esteticismo, a inocência…
A segunda parte da Suite française, “Dolce”, situa-se no espaço de uma aldeia ocupada. As relações e os sentimentos de ocupantes e de ocupados são passados em revista: há repulsa misturada com fascínio de ambos os lados, o gozo sádico de desejar a morte do outro na sua diferença é a nota dominante.
Irène Némirovsy viria a morrer gazeada em Auschwitz, em Agosto de 1942. Permanece o seu testemunho dilacerante para que a memória do irreparável nos continue a desafiar à construção de um mundo onde cada homem, por estar no rastro da transcendência, nos obriga a respeitar de modo efetivo todos os seus direitos inalienáveis.
A obra encontra-se publicada pela Companhia das Letras. Reenvio para o seu site, onde se pode ler o seguinte trecho .

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