sexta-feira, 30 de novembro de 2012

"Sair da Caverna", por Viriato Soromenho Marques

“A alegoria da caverna de Platão talvez nos ajude a perceber a complexa opacidade do tentacular mundo financeiro contemporâneo.
Um recente estudo do FSB (Financial Stability Board) - uma organização estabelecida em abril de 2009 por alguns dos maiores bancos centrais do planeta - revela a desmesura das instituições que se dedicam a operações de crédito semelhantes à da banca regular, só que sem se submeterem às mesmas normas de regulação e supervisão da banca formal.
Na verdade, calcula-se que atualmente a shadow banking [instituições financeiras não bancárias e cuja atividade se escapa à regulação]  corresponda a 67 biliões de dólares (111% do PIB mundial!), uma brutal subida numa década, a partir dos 26 biliões de 2002. A crise financeira de 2008, causou apenas um pequeno atrito, logo corrigido por novas subidas. Mais de um quarto de todas as operações de crédito pertence a estas entidades, cujo peso é sobretudo relevante nos EUA (23 biliões), na Zona Euro (22 triliões) e no Reino Unido (9 biliões).
Para os milhões de desempregados da Zona Euro, para os milhares de empresários portugueses, irlandeses e espanhóis que não encontram crédito para os seus negócios à luz do dia, que iriam criar emprego e pagar IRC, este oceano de liquidez, de uma diáfana legalidade, não deixará de ser uma espécie de dolorosa metáfora acerca de quem manda no mundo. Massas de capital desta dimensão, flutuando quase sem barreiras, estabelecendo conexões portadoras de risco sistémico para a economia real, constituem uma espécie de híper-leviatã financeiro que seduz ou devora os tímidos poderes políticos nacionais. Compromete a sua eficácia. Compra a alma de muitos dos seus atores. Faz da integridade das instituições, às vezes, uma mera caricatura.
Platão já nos prevenira, há 2500 anos. Olhar a verdade de frente faz doer os olhos.”
(Cf. “Opinião”, in Diário de Notícias, 29 de Novembro de 2012)

Adenda:
A FSB inclui também, para além dos representantes dos bancos centrais de 12 nações mais industrializadas (EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, etc.), ministros das finanças e reguladores.
O seu papel consiste em monitorizar e produzir recomendações que contribuam para a regulação financeira internacional.
Com estes dados, oriundos de quem sabe do que fala, é necessário avançar para uma decisão vinculativa, tomada no âmbito da Nações Unidas, que estabeleça um norma proibitiva das práticas do shadow banking, por um lado, e que faça a taxação das transações financeiras internacionais, revertendo esse produto a favor da erradicação da pobreza e da ajuda ao desenvolvimento.      


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