segunda-feira, 25 de junho de 2012

A justiça e o irreparável - Desmond Tutu

Em 1994, no Simpósio Internacional Ética e o Futuro da Democracia que teve lugar em Lisboa, em 1994, Ricoeur no âmbito da sua comunicação intitulada "a crise da consciência histórica e a Europa, tematizou a patologia da memória e da tradição e da antecipação do futuro.
Este filósofo disse a certo passo o seguinte:
"Assim como há duas memórias, a memória repetição e a memória interrogativa e crítica, há duas espécies de esquecimento. (...) o de um deficit de memória activa, que é um esquecimento de fuga; mas há também um esquecimento voluntário, aparentado ao perdão e que pertence à terapêutia da vingança. Este esquecimento, cultivado com precaução, põe um termo à vingança, sem abolir a responsabilidade moral, solidária de uma culpabilidade sem fim.”
Na linha deste pensamento, lemos hoje,  no Público , uma entrevista do bispo anglicano Desmond Tutu, que teve um papel relevante no desmantelamento do Apartheid na África do Sul e seguidamente na Comissão pela Justiça e Reconciliação.

A dado passo da entrevista, à questão “perdoando aos agressores faz-se justiça às vítimas?”, responde:

“Quando um mal é cometido, o equilíbrio na comunidade é perturbado. As relações estão feridas e precisamos de algo e precisamos de algo que restaure o equilíbrio na
relação. Não estamos tanto à procura de punir, mas sarar, e vê-se. Os agressores, para serem amnistiados, tiveram de confessar em publico os actos que tinham cometido.”

Para além da bondade do pensamento do filósofo e da atitude do bispo, fica para sempre em suspenso a justiça contra o irreparável da injustiça contra as vítimas.

Quem as poderá salvar ainda? Só a fé crente pode ser uma esperança a cumprir por Aquele em que se acredita.  

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