sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A arte do Japão: uma sensibilidade refinada à beleza do mundo, acompanhada a música de Manuel Freire

O ideal estético de “mono no aware” (expressão japonesa que significa “sensibilidade em relação às coisas”) é o princípio que comanda a criação artística e poética japonesa, no período clássico.
Consiste numa "sensibilidade” dirigida em direção ao mundo, que acolhe fenomenologicamente o real na sua verdade essencial: os objetos, os seres vivos e as pessoas constituem a matéria dessa sensibilidade.
Assim, a sensibilidade do artista, refinada por um longo trabalho de estudo e de treino, é o elemento de uma experiência total, física e espiritual, de espanto em face da beleza e do mistério das coisas, sendo a obra o resultado desse processo. E por isso é natural que uma comoção estética análoga ocorra em quem frui a obra.
As mudanças da natureza, onde a beleza se afirma para logo desaparecer, marcam esta experiência artística de uma consciência habitada por uma tonalidade emocional específica: as coisas, apesar de efémeras, ainda assim são belas.
O protótipo desta experiência são as flores de cerejeira, pois despontam em beleza na primavera, depois da desolação do Inverno, e oferecem a sua esplendorosa beleza durante alguns dias antes de morrerem.
Este valor da “mono no aware” modelou o gosto artístico cortesão, no Japão, e encontra-se enunciado na antologia poética Kokinschu (905), no prefacio do seu codificador, e que este poema da antologia exemplifica:
“Quando os cristais da neve/caem no sono as árvores e/as ervas florescem aí selvagens/ flores nunca antes vistas/sobre os ramos ou troncos na Primavera.”
Este haiku (poema japonês de três versos) de Matsuo Bashô expressa esta mesma ideia:
“O monte Fuji/apesar da neve/mesmo assim é belo”.
No campo do cinema, este mesmo aspeto encontra-se presente. Ozu é, na opinião de Wim Wenders um caso emblemático, pois expressa os sentimentos mais pelo enfoque das coisas do que pela face dos atores.

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