terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Terra está a viver uma nova era geológica: a “antropocénica”.


O neologismo foi proposto por Paul Crutzen, químico da atmosfera holandês e premiado com o Nobel da sua disciplina, em 1995, para descrever o impacto cada vez mais intenso da humanidade sobre a biosfera.

De acordo com este cientista, essa era iniciou-se por volta de 1800, com a chegada da sociedade industrial, caracterizada pela utilização maciça de hidrocarbonetos. Desde então, não pára de crescer a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, causada pela combustão desses produtos. A acumulação dos gases do efeito-estufa contribui para o aquecimento global.
Paul Crutzen propõe-se reverter o aquecimento global espalhando partículas minúsculas na atmosfera superior para reflectir os raios do Sol. Este efeito já foi mostrado, por exemplo, quando partículas finas de sulfato, chamados aerossóis, foram ejetadas por grandes erupções vulcânicas, como a de Monte Pinatubo, em 1991, ocorrendo períodos de arrefecimento global.   
Nós vivemos hoje na fase 2 da “era antropocênica” (1945-2015), de "grande aceleração”, encontrando-se em estado crítico porque 60%dos ecossistemas terrestres estão já degradados pelos efeitos das atividades humanas exageradas sobre a natureza.
Um sinal de esperança neste panorama:  entre 1980 e 2000, houve uma tomada de consciência progressiva  dos perigos gerados pela atividade humana, cada vez mais intensa,  sobre a natureza.
A humanidade confronta-se assim neste momento com três escolhas a fazer na terceira fase da “era antropocénica” (que se inicia em 2015).
A primeira consiste em manter as mesmas atitudes e esperar que a economia de mercado e o espírito humano de adaptação cuidem dos problemas ambientais. A escolha oferece "riscos consideráveis", segundo este e outros autores, porque quando forem decididas medidas adequadas de combate aos problemas pode ser "tarde demais".
 
Em 2001, Paul Crutzen teorizou que partículas suspensas na atmosfera (poeira e fuligem) estavam a bloquear até 15 por cento da luz solar. Naquela época, este facto foi considerado uma coisa má, mas hoje os aerossóis são saudados como uma potencial resposta para o aquecimento global.
O mapa acima é uma imagem NASA obtida por satélite. A cor laranja-escuro representa áreas com elevada concentração de partículas atmosféricas, enquanto que as áreas claras mostram uma atmosfera isenta desta concentração . As áreas cinzentas não foram mapeados.
 A segunda opção, a de atenuação, tem por objetivo reduzir consideravelmente a influência humana sobre o planeta, por meio de uma melhor gestão ambiental, com novas tecnologias, uso mais sábio de recursos e restauração de áreas degradadas, mas requereria "importantes mudanças no comportamento dos indivíduos e nos valores sociais".
Caso isso não se prove possível, resta sempre a terceira opção: o uso de geo-engenharia para alterar o clima e combater o aquecimento global. A opção envolveria manipulações bastante poderosas do meio ambiente em escala mundial, com o objetivo de contrabalançar as atividades humanas. Por exemplo, já existem planos para reter o gás carbónico em reservatórios subterrâneos, ou espalhar na atmosfera partículas que reflitam a luz solar, refrigerando a temperaturas. Mas isso exigiria cuidado para não criar uma nova era glacial, a qual teria de ser combatida por meio da promoção de novas medidas de aquecimento global.
Conclusão desta última opção: "O remédio pode ser pior do que a doença".

(Texto de Christiane Galus, Le Monde, trad. Paulo Migliacci, ed.
Terra Notícias, adapatado)
 



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