quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A mão que assinou o papel… Dylan Thomas



O poema de Dylan Thomas (1914-1953) que se transcreve pertence à obra Vinte e cinco poemas, publicada em 1936. Pode ser lido como uma alegoria de condenação de todas as formas de tirania, religiosa - política, social, económica - nas suas alusões à "fome" e aos "gafanhotos", que “trituram a respiração” dos homens, condenando-os à morte. Contém deste modo uma mensagem intemporal, que é oportuno meditar.

A mão que assinou o papel… 

A mão que assinou o papel destruiu uma cidade
cinco soberanos dedos tributaram a respiração,
de mortos duplicaram o mundo, a meio cortaram um país:
estes cinco reis provocaram a morte de um rei.

A poderosa mão conduz a um ombro descaído;
Sofrem cãibras as junturas dos dedos engessados.
Uma pena de pato pôs fim ao morticínio
que tinha posto fim às negociações.

A mão que assinou o tratado engendrou febre,
e aumentou a fome, e vieram gafanhotos:
grande é a mão que sobre todos impera
com o gatafunho de um nome.

Os cinco reis contam os mortos, mas não acalmam
a crosta das f’ridas nem a fronte afagam.
Há mãos que regem a piedade, outras o céu:
só não as há que vertam lágrimas.

Dylan Thomas, “The Hand That Signed the Paper”, in Twenty five Poems, trad. de David Mourão-Ferreira



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