sábado, 5 de janeiro de 2013

“Permanecer igual a quem pensa, insomne”, por Paul Valéry



(…)
Paciência, paciência,
paciência no azul!
Cada instante de silêncio
pode dar frutos maduros!
Virá a feliz surpresa:
uma pomba, a simples brisa,
o mais doce dos abalos, a mulher que te procura,
farão cair essa chuva
que nos deixa ajoelhados!

Que um povo agora se roje,
palma!...irresistivelmente!
Que na poeira se role
sobre os sóis do firmamento!
Estas horas não perdeste
se leve permaneceste
depois de tais abandonos;
igual a quem pensa, insomne,
e  cuja alma consome
para aumentar os seus dons!

Paul Valéry, excerto do poema “Palme”, Charmes, 1922



(Adenda: no título deste poema, Valéry recolheu toda a carga simbólica que se encontra presente no ramo da palmeira, na “palma”. Com efeito, desde o Egipto e a Babilónia que a palmeira tomou  importância  na subsistência, na construção e na confecção de vestuário, expandindo-se progressivamente  para outros espaços. Este facto tornou a palma um símbolo de riqueza, de vitória, de ascensão, de fecundidade e de imortalidade em várias culturas. É o caso do ramo de ouro de Eneias e dos mistérios de Elêusis. As palmas de Ramos, que equivalem ao bruxo europeu, prefiguravam a Ressurreição de Cristo, após o drama do Calvário; a palma dos mártires tem a mesma significação. O pé de bruxo significa a certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. C. G. Jung faz dele um símbolo da alma.)

 

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