Verbiário é o nome de um manual que dita as regras da conjugação verbal e da boa construção gramatical, no latim e em algumas línguas românicas (como o italiano e o romeno). Esta palavra passou também a designar, no português arcaico, o manual das orações do clérigo, ajuda para este voar até ao céu.
Para além desta peripécia da palavra, ela interessa-me pela sua carga polissémica – tem dentro dela o sema latino verbum, a palavra (pois é esta a sua a principal substância ) e diário, que dá conta da experiência de cada dia. E interessa-me também por trazer de volta à vida um lexema, que caiu em desuso na nossa língua, e por este reenviar para a filiação latina da nossa cultura.
Volátil é o que sobe nas nuvens, como um bailarino, porque tudo o que nele se diga tem uma solidez que se pode dissolver em fumo, e pode planar até ao desastre por se aventurar a não ponderar as risco das condições do voo, falhar, por imperícia, o manuseio da equipagem ou por se aventurar a espaços siderais muito longínquos.
Se conseguir articular o discurso e elevá-lo ao plano do pensamento terei alcançado o objetivo. O escrutínio livre do comentário dos leitores é um elemento fundamental àquele desiderato.
De todos os que, no ato da escrita, se elevaram ao plano do pensamento, criando conceitos, perceptos ou afetos (Deleuze), sinto-me discípulo. A comensalidade habituar-me-á a escutar o canto estrídulo e prolongado, acridoce, da ave sagrada, que me ajudará a dissolver o encantamento do canto das sereias que andam pelo mundo.
Marcel Mauss, Lévi-Strauss, Cornelius Castoriadis, Emmanuel Lévinas, et alli são alguns mestres. Dele respigarei uma axiomática, que funcionará como pano de fundo do discurso a construir, o meu verbário de bolso.