Não vás tão docilmente nessa noite
linda;
Que a velhice arda e brade ao término do dia; Clama, clama contra o apagar da luz que finda. Embora o sábio entenda que a treva é bem-vinda Quando a palavra já perdeu toda a magia, Não vai tão docilmente nessa noite linda. O justo, à última onda, ao entrever, ainda, Seus débeis dons dançando ao verde da baía, Clama, clama contra o apagar da luz que finda. O louco que, a sorrir, sofreia o sol e brinda, Sem saber que o feriu com a sua ousadia, Não vai tão docilmente nessa noite linda. O grave, quase cego, ao vislumbrar o fim da Aurora astral que o seu olhar incendiaria, Clama, clama contra o apagar da luz que finda. Assim, meu pai, do alto que nos deslinda Me abençoa ou maldiz. Rogo-te todavia: Não vás tão docilmente nessa noite linda. Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
Dylan Thomas, "Do not go gentle into that good
night", trad. e org. de Augusto Campos, Poesia da recusa, São Paulo, Perspectiva, 2006.
Texto em inglês:
Do not go gentle into that good night Do not go gentle into that good night, Old age should burn and rave at close of day; Rage, rage against the dying of the light. Though wise men at their end know dark is right, Because their words had forked no lightning they Do not go gentle into that good night. Good men, the last wave by, crying how bright Their frail deeds might have danced in a green bay, Rage, rage against the dying of the light. Wild men who caught and sang the sun in flight, And learn , too late, they grieved it on its way Do not go gentle into that good night. Grave men, near death, who see with blinding sight Blind eyes could blaze like meteors and be gay, Rage, rage against the dying of the light. And you, my father, there on the sad height, Curse, bless, em now with your fierce tears, I pray. Do not go gentle into that good night. Rage, rage against the dying of the light. |
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segunda-feira, 24 de junho de 2013
Não vás tão docilmente nessa noite linda – poema de Dylan Thomas
(com o pensamento em Nelson Mandela, o "justo", nesta hora de extrema provação)
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A luz irrompe onde nenhum Sol brilha - poema de Dylan Thomas
A luz irrompe onde nenhum sol brilha;
onde não se agita qualquer mar, as águas do coração
impelem as suas marés;
e, destruídos fantasmas com o fulgor dos vermes nos cabelos,
os objectos da luz
atravessam a carne onde nenhuma carne reveste os ossos.
Nas coxas, uma candeia
aquece as sementes da juventude e queima as da velhice;
onde não vibra qualquer semente,
arredonda-se com o seu esplendor e junto das estrelas
o fruto do homem;
onde a cera já não existe, apenas vemos o pavio de uma candeia.
aquece as sementes da juventude e queima as da velhice;
onde não vibra qualquer semente,
arredonda-se com o seu esplendor e junto das estrelas
o fruto do homem;
onde a cera já não existe, apenas vemos o pavio de uma candeia.
A manhã irrompe atrás dos olhos;
e da cabeça aos pés desliza tempestuoso o sangue
como se fosse um mar;
sem ter defesa ou protecção, as nascentes do céu
ultrapassam os seus limites
ao pressagiar num sorriso o óleo das lágrimas.
e da cabeça aos pés desliza tempestuoso o sangue
como se fosse um mar;
sem ter defesa ou protecção, as nascentes do céu
ultrapassam os seus limites
ao pressagiar num sorriso o óleo das lágrimas.
A noite, como uma lua de asfalto,
cerca na sua órbita os limites dos mundos;
o dia brilha nos ossos;
onde não existe o frio, vem a tempestade desoladora abrir
as vestes do inverno;
a teia da primavera desprende-se nas pálpebras.
cerca na sua órbita os limites dos mundos;
o dia brilha nos ossos;
onde não existe o frio, vem a tempestade desoladora abrir
as vestes do inverno;
a teia da primavera desprende-se nas pálpebras.
A luz irrompe em lugares estranhos,
nos espinhos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva;
quando a lógica morre,
o segredo da terra cresce em cada olhar
e o sangue precipita-se no sol;
sobre os campos mais desolados, detém-se o amanhecer
nos espinhos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva;
quando a lógica morre,
o segredo da terra cresce em cada olhar
e o sangue precipita-se no sol;
sobre os campos mais desolados, detém-se o amanhecer
Extraído de The Poems of Dylan Thomas (1937), em trad. de Fernando Guimarães
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A mão que assinou o papel… Dylan Thomas
O poema de Dylan Thomas (1914-1953) que se transcreve pertence à obra Vinte e cinco poemas, publicada em 1936.
Pode ser lido como uma alegoria de condenação de todas as formas de tirania,
religiosa - política, social, económica - nas suas alusões à "fome" e aos "gafanhotos", que “trituram a respiração” dos homens, condenando-os à morte. Contém
deste modo uma mensagem intemporal, que é oportuno meditar.
A mão que
assinou o papel…
A mão que
assinou o papel destruiu uma cidade
cinco
soberanos dedos tributaram a respiração,
de mortos
duplicaram o mundo, a meio cortaram um país:
estes cinco
reis provocaram a morte de um rei.
A poderosa
mão conduz a um ombro descaído;
Sofrem cãibras
as junturas dos dedos engessados.
Uma pena de
pato pôs fim ao morticínio
que tinha
posto fim às negociações.
A mão que
assinou o tratado engendrou febre,
e aumentou a
fome, e vieram gafanhotos:
grande é a
mão que sobre todos impera
com o
gatafunho de um nome.
Os cinco
reis contam os mortos, mas não acalmam
a crosta das
f’ridas nem a fronte afagam.
Há mãos que
regem a piedade, outras o céu:
só não as há
que vertam lágrimas.
Dylan Thomas, “The Hand That Signed the Paper”, in Twenty five Poems, trad. de David
Mourão-Ferreira
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