Mostrar mensagens com a etiqueta povo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta povo. Mostrar todas as mensagens

domingo, 9 de junho de 2013

Povo que lavas no rio, Amália

A pensar nas Comemorações do Dia de Portugal (10 de Junho), escolhi pelo seu simbolismo esta canção de Amália, com poema de Pedro Homem de Melo.
A verdade dorida que este canto inspirado, único, de Amália, enuncia, é um apelo urgente para repensarmos a situação difícil em que o povo é obrigado a viver. A memória de todo o sofrimento do povo português, o presente e o passado, é assinalado no poema.
Que por isso  é um convite a uma tomada de posição na defesa das condições de vida justas para "todos", acreditando que esta tem de ser obra de todos, nunca de salvadores da Pátria alumbrados.

sábado, 4 de maio de 2013

Entre o “povo” e “os grandes”: optar pelo povo (La Bruyère)



“Se comparo as duas condições de homens as mais opostas, isto é, os grandes e o povo, este último parece-me contente com o necessário, e os outros estão inquietos e pobres com o supérfluo.
Um homem do povo não poderia fazer mal algum; um grande não quer fazer nenhum bem, e é capaz de grandes males. Um não se forma e não se exerce senão nas coisas que são úteis; o outro acrescenta aí as perniciosas.
Acolá mostra-se ingenuamente a rudeza e a franqueza; aqui esconde-se a seiva maligna e corrompida sob a casca da cortesia. O povo não tem quase espírito, e os grandes não têm de modo algum alma: aquele tem um fundo bom, não tem nenhum exterior; estes têm apenas exterior e uma simples superfície.
É necessário optar?  Eu não hesito: eu quero ser povo.”

Traduzido de “Os grandes", Observação 25, da obra de La Bruyère, Les caracteres, Ed. Garnier- Flamarion, Paris, 1965, pp. 231-2.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

"Tais pessoas (...) que têm dinheiro”, La Bruyère


La Bruyère (1645-1696) teve uma formação jurídica mas cedo sentiu a vocação de escritor, só publicando cerca de 20 anos mais tarde, em 1688, a obra “Os Caracteres”. Como o título indica, ela faz a descrição dos costumes da sociedade em que viveu (intrigas palacianas, os vícios do sistema judicial, o luxo insultuoso dos arrivistas, os impostores, a riqueza e a pobreza, os horrores da guerra, etc.), a partir de um ângulo de observação privilegiado: a corte francesa ao tempo de Luís XIV, com a qual esteve em contacto intenso. O seu objetivo é claro: ser o juiz de uma ordem política transviada em relação à exigência do Evangelho cristão, protestando contra a injustiça. Como homem de letras, considera que a escrita se encontra ao serviço do bem público, sendo por isso que, comparando os “grandes” ao “povo”, proclama: “eu quero ser povo” (cf. “Os grandes”,Observação 25, p. 232, na obra que refiro no fim).

La Bruyère é um exemplo de verticalidade moral, que nos ajuda a ver que há sempre, no meio de um mundo sem alma, quem saiba estar na resistência e na denúncia. O excerto sobre "a ganância do dinheiro", que transcrevo, é uma marca dessa atitude.
 
"Há almas sujas, forjadas de barro e de lixo, enamoradas do ganho e do interesse, assim como as belas almas o são da glória e da virtude; capazes de uma única volúpia, a de adquirir ou de não perder; curiosas e ávidas do último décimo; unicamente ocupadas com os seus devedores; sempre inquietas sobre a descida ou a desvalorização da moeda; mergulhadas e como abismadas nos seus contratos, nos seus títulos e pergaminhos. Tais pessoas não são nem parentes, nem amigos, nem cidadãos, nem cristãos, nem talvez homens: elas têm dinheiro."
 
Traduzido de “Os bens de fortuna”, Observação 57, da obra de La Bruyère, Les caracteres, Ed. Garnier- Flamarion, Paris, 1965, pp. 181-2.