Ryszard KapuscinsKi (1932-2007) foi um escritor e
jornalista polaco que ficou célebre pelas reportagens que realizou, a partir de
1981, sobre os conflitos sangrentos e os problemas humanos (a pobreza e a fome) que
assolaram a América Latina, a África e o Médio Oriente durante esse período.
Imerso no quente das
situações, relatou-as com a sua crueza e objetividade (sendo por isso conhecido
como o Heródoto dos tempos modernos), ao arrepio dos critérios que dominam, na
maioria dos casos, o jornalismo mundial. Por esta razão, o seu gesto só
enobrece a profissão do jornalismo que o sabe ser, sendo uma denúncia dos seus
simulacros e um apelo a todos os jornalistas para que mantenham a coragem de
permanecer fiéis à sua ética profissional.
Deixo um pequeno excerto
de uma obra sua traduzida em português:
“Que histórias a imprensa
mundial publica! Li muitas das notícias enviadas de Luanda naqueles dias. Admirei
a opulência da fantasia humana. Mas também compreendia o impasse em que se
encontravam os meus colegas. O diretor do jornal manda um repórter a um país
que é fascinante para o mundo inteiro. Uma viagem dessas custa muito dinheiro.
O mundo está à espera de uma grande história, de um furo jornalístico, uma
narrativa sensacional escrita debaixo de uma chuva de balas. O correspondente especial
chega de avião a Luanda. É levado para o hotel. Arranjam-lhe um quarto,
barbeia-se e muda de camisa. Está pronto e sai imediatamente para procurar os
combates.” (KapuscinsKi, 1998: 83).
Ryszard KapuscinsKi, Os
cínicos não servem para este ofício, Relógio d’Água (reimpressão), 2008.