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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

"Trabalho sem valor”: artigo de Robert Kurz



A Alemanha é admirada em toda a parte como campeã mundial da recuperação económica. A economia prospera, o mercado de trabalho está a crescer. Mas esta bela aparência poderá ser enganadora. O crescimento mais forte do que noutros países ocidentais é apenas o reverso da queda particularmente profunda de 2009. Nesse ano, a Alemanha registou a maior contração do produto entre os países industriais desenvolvidos, quase 5 por cento. As oscilações extremas, primeiro para cima e depois para baixo, mostram apenas que a economia alemã é, em todo o mundo, a mais dependente das exportações.
A nova subida concentra-se mais do que nunca na indústria automóvel e na construção de máquinas. Os fabricantes de automóveis fornecem sobretudo carros de luxo para a China e para os EUA, enquanto as vendas na Europa continuam estagnadas. A construção de máquinas fornece numa proporção crescente a onda de investimentos com que se fez face à crise na China. Mas estes dois motores externos de crescimento são mantidos a funcionar principalmente através de enormes programas públicos e de dinheiro tornado artificialmente barato. Se a inflação, já a subir, obrigar os bancos centrais da China e dos E.U.A. a aumentos sensíveis das taxas de juros, o boom poderá desfazer-se rapidamente no ar. Os muito aclamados novos postos de trabalho nos sectores chave da exportação revelar-se-iam como "bolha de trabalho", que teria de estourar, porque o poder de compra externo necessário para o êxito das exportações não se baseava em criação de valor real. A máquina de fazer dinheiro do Estado não é mais viável do que anteriormente a máquina de fazer dinheiro do capital financeiro. 
Apesar do boom febril, na Alemanha é estreita a base do mercado de trabalho na indústria de exportação. O chauvinismo ideológico de exportador corresponde a uma pequena "aristocracia operária", enquanto o emprego precário se multiplica ampla e rapidamente no interior, sem apanhar o vento dos lucros e rendimentos da economia virada para o exterior. A redução do desemprego apresentada orgulhosamente só assenta em novos postos de trabalho a tempo inteiro, com emprego garantido, em poucos segmentos exportadores. A maior parte dos novos postos de trabalho é a prazo e paga abaixo das tabelas dos acordos coletivos. Mas, sobretudo, teve um crescimento explosivo o número de empregos de 400 euros, que em 2010 atingiu os 7,3 milhões. Cada vez mais postos de trabalho regulares são transformados em empregos desses, sendo o pagamento frequentemente inferior a metade das tabelas da contratação coletiva. E quase dois terços destes mini-empregos são ocupados por mulheres. De acordo com as leis da economia, uma conjuntura económica auto-sustentada teria de fazer subir o preço da força de trabalho em geral. O facto de, pelo contrário, a sua desvalorização continuar dramaticamente é um indício da falta de substância da retoma.
Efectivamente, grande parte do emprego precário situa-se em sectores improdutivos do ponto de vista capitalista. Eles têm de ser alimentados pela produção de mais-valia real, a qual, por sua vez, é apenas simulada; entretanto já só através da criação de dinheiro pelo Estado. O boom global de exportação assim alimentado é um evento de minoria na maior parte dos países desenvolvidos e especialmente na Alemanha.
O dinheiro barato leva a novos investimentos apenas nestes sectores, faltando na indústria, no comércio e nos serviços. Em vez disso, a inundação de dinheiro dos bancos centrais flui, como de costume, para a superstrutura financeira. O reverso do "trabalho sem valor" é uma nova bolha nos mercados globais de ações, os quais, nestas condições, já não constituem certamente qualquer indicador de desenvolvimento económico real, sendo, pelo contrário, auto-referenciais e expressão duma miragem. Está programado o próximo choque de desvalorização nos mercados financeiros, juntamente com inflação e crises da dívida pública.
 (Robert Kurz, artigo “”Arbeit ohne Wert, pub. em Newes Deulschland, em 02/05/2011, editado em www.exit-online.org.)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Nana Mouskuri canta Schubert: a "comoção de amor" entre os povos grego e alemão é possível

 

Serenata

De mansinho as minhas canções
Imploram-te através da noite;
Desce o silencioso bosque,
Minha amada, vem para mim!
Segredando os esguios cumes murmuram
À luz da Lua;
Não receies o espreitar inimigo
Do traidor, minha querida.
Ouves os rouxinóis cantarem?
Ah! eles imploram-te
Com o tom de doce queixa,
Eles imploram-te por mim.
Eles compreendem o desejo do coração.
Conhecem a dor do amor,
Tocam com os sons cristalinos
Todos os corações ternos.
Deixa também o teu coração comover,
Meu amor, ouve-me!
Tremendo de impaciência eu vou ao teu encontro!
Vem, faz-me feliz!

quarta-feira, 13 de março de 2013

“Acordo de Londres: uma verdade inconveniente”: posição sobre dívidas soberanas na UE

  (…) A bancarrota dos Estados é vista, há muito tempo, como um problema longínquo, próprio do chamado Terceiro Mundo (o Sul Global). Hoje não está de modo algum distante, mas precisamente à nossa porta. Uma emergência económica, decorrente do excesso de endividamento, ameaça a própria existência da união monetária europeia. A devastação social e política dos países atingidos pela crise ameaça o tecido social desses países. No entanto, a Alemanha parece manter-se à parte, com uma economia relativamente bem sucedida e florescente. Mas não foi sempre assim.
Poucas pessoas sabem que a Alemanha beneficiou de um generoso perdão parcial de dívida no início do seu "milagre económico". De entre as reestruturações de dívida soberana modernas, o Acordo de Dívida de Londres para a Alemanha, cujo 60.º aniversário assinalamos a 27 de Fevereiro, é um exemplo precoce e pouco conhecido. Isto é tanto mais surpreendente quanto se trata de um caso de sucesso na restauração da sustentabilidade da dívida da Alemanha Ocidental. No fim das negociações, metade de todas as dívidas (no valor de 30 milhões de marcos alemães) tinha sido cancelada e o restante fora reescalonado de forma tão inteligente, que a Alemanha nunca mais enfrentou um problema de dívida.
Às crianças alemãs não é habitualmente ensinado nada acerca deste acordo nas aulas de História, e nos media pouca atenção lhe é dedicada. No entanto, seria hoje prudente lembrarmo-nos de como a bancarrota iminente de um Estado foi evitada através de negociações atempadas, rápidas, exaustivas e justas.
O contraste entre o tratamento histórico da Alemanha e o atualmente imposto à Grécia e a Portugal não podia ser mais óbvio. A Alemanha beneficiou de um perdão alargado e, como consequência, a sua economia cresceu rapidamente e de forma sustentável. Pelo contrário, a Grécia e Portugal estão a ser forçados a "consolidar-se" a si mesmos em direção a uma recessão dolorosa e destrutiva, que abala as fundações da sociedade. Um dos países mais generosos com a Alemanha em 1953 foi, já agora, a Grécia, apesar dos crimes de guerra cometidos durante a ocupação alemã poucos anos antes.
Poucas reestruturações de dívidas soberanas marcaram tão claramente a transição de uma condição de endividamento crítico para uma situação em que a dívida deixa de constituir um obstáculo ao desenvolvimento económico e social como a de 1953. O acordo encontrado é ainda hoje um dos melhores exemplos históricos de quão razoável e sustentável uma renegociação de dívida pode ser, se houver vontade política.
Vale a pena reexaminar hoje "Londres 53" como exemplo e fonte de inspiração para as atuais discussões sobre renegociação de dívida, tanto para os países do Sul Global como no contexto das crises de insolvência na zona euro. Lembremo-nos deste pedaço vital de história esquecida!”
Sbscritores desta posição: Bodo Ellmers (European Network on Debt and Development, Bélgica), Eric LeCompte (Jubilee USA Network, EUA), Isabel Castro (Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Divida Pública - IAC, Portugal), Iolanda Fresnillo (Plataforma Auditoria Ciudadana de la Deuda - PACD, Espanha), Kristina Rehbein e Jürgen Kaiser (erlassjahr.de - Entwicklung braucht Entschuldung e.V., Alemanha), Nessa Ní Chasaide (Debt and Development Coalition, Irlanda), Andy Storey (Debt Justice Action"s Anglo: Not Our Debt, Irlanda), Nick Dearden (Jubilee Debt Campaign, Reino Unido)

Cf. Público, 12 Março de 2013