“Se comparo as duas condições de homens as mais opostas, isto
é, os grandes e o povo, este último parece-me contente com o necessário, e os
outros estão inquietos e pobres com o supérfluo.
Um homem do povo não
poderia fazer mal algum; um grande não quer fazer nenhum bem, e é capaz de
grandes males. Um não se forma e não se exerce senão nas coisas que são úteis;
o outro acrescenta aí as perniciosas.
Acolá mostra-se ingenuamente a rudeza e a franqueza; aqui
esconde-se a seiva maligna e corrompida sob a casca da cortesia. O povo não tem
quase espírito, e os grandes não têm de modo algum alma: aquele tem um fundo
bom, não tem nenhum exterior; estes têm apenas exterior e uma simples
superfície.
É necessário optar? Eu
não hesito: eu quero ser povo.”
Traduzido de
“Os grandes", Observação 25, da obra de La Bruyère, Les caracteres, Ed. Garnier- Flamarion, Paris, 1965, pp. 231-2.
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