A
Alemanha é admirada em toda a parte como campeã mundial da recuperação
económica. A economia prospera, o mercado de trabalho está a crescer. Mas esta
bela aparência poderá ser enganadora. O crescimento mais forte do que noutros
países ocidentais é apenas o reverso da queda particularmente profunda de 2009.
Nesse ano, a Alemanha registou a maior contração do produto entre os países
industriais desenvolvidos, quase 5 por cento. As oscilações extremas, primeiro
para cima e depois para baixo, mostram apenas que a economia alemã é, em todo o
mundo, a mais dependente das exportações.
A
nova subida concentra-se mais do que nunca na indústria automóvel e na
construção de máquinas. Os fabricantes de automóveis fornecem sobretudo carros
de luxo para a China e para os EUA, enquanto as vendas na Europa continuam
estagnadas. A construção de máquinas fornece numa proporção crescente a onda de
investimentos com que se fez face à crise na China. Mas estes dois motores
externos de crescimento são mantidos a funcionar principalmente através de
enormes programas públicos e de dinheiro tornado artificialmente barato. Se a
inflação, já a subir, obrigar os bancos centrais da China e dos E.U.A. a
aumentos sensíveis das taxas de juros, o boom poderá desfazer-se
rapidamente no ar. Os muito aclamados novos postos de trabalho nos sectores
chave da exportação revelar-se-iam como "bolha de trabalho", que
teria de estourar, porque o poder de compra externo necessário para o êxito das
exportações não se baseava em criação de valor real. A máquina de fazer
dinheiro do Estado não é mais viável do que anteriormente a máquina de fazer
dinheiro do capital financeiro.
Apesar
do boom febril, na Alemanha é estreita a base do mercado de trabalho na
indústria de exportação. O chauvinismo ideológico de exportador corresponde a
uma pequena "aristocracia operária", enquanto o emprego precário se
multiplica ampla e rapidamente no interior, sem apanhar o vento dos lucros e
rendimentos da economia virada para o exterior. A redução do desemprego
apresentada orgulhosamente só assenta em novos postos de trabalho a tempo
inteiro, com emprego garantido, em poucos segmentos exportadores. A maior parte
dos novos postos de trabalho é a prazo e paga abaixo das tabelas dos acordos
coletivos. Mas, sobretudo, teve um crescimento explosivo o número de empregos
de 400 euros, que em 2010 atingiu os 7,3 milhões. Cada vez mais postos de
trabalho regulares são transformados em empregos desses, sendo o pagamento
frequentemente inferior a metade das tabelas da contratação coletiva. E quase
dois terços destes mini-empregos são ocupados por mulheres. De acordo com as
leis da economia, uma conjuntura económica auto-sustentada teria de fazer subir
o preço da força de trabalho em geral. O facto de, pelo contrário, a sua
desvalorização continuar dramaticamente é um indício da falta de substância da
retoma.
Efectivamente,
grande parte do emprego precário situa-se em sectores improdutivos do ponto de
vista capitalista. Eles têm de ser alimentados pela produção de mais-valia
real, a qual, por sua vez, é apenas simulada; entretanto já só através da
criação de dinheiro pelo Estado. O boom global de exportação assim
alimentado é um evento de minoria na maior parte dos países desenvolvidos e
especialmente na Alemanha.
O
dinheiro barato leva a novos investimentos apenas nestes sectores, faltando na
indústria, no comércio e nos serviços. Em vez disso, a inundação de dinheiro
dos bancos centrais flui, como de costume, para a superstrutura financeira. O
reverso do "trabalho sem valor" é uma nova bolha nos mercados globais
de ações, os quais, nestas condições, já não constituem certamente qualquer
indicador de desenvolvimento económico real, sendo, pelo contrário, auto-referenciais
e expressão duma miragem. Está programado o próximo choque de desvalorização
nos mercados financeiros, juntamente com inflação e crises da dívida pública.
(Robert
Kurz, artigo “”Arbeit ohne Wert, pub. em Newes Deulschland, em
02/05/2011, editado em www.exit-online.org.)
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