O poema de Dylan Thomas (1914-1953) que se transcreve pertence à obra Vinte e cinco poemas, publicada em 1936.
Pode ser lido como uma alegoria de condenação de todas as formas de tirania,
religiosa - política, social, económica - nas suas alusões à "fome" e aos "gafanhotos", que “trituram a respiração” dos homens, condenando-os à morte. Contém
deste modo uma mensagem intemporal, que é oportuno meditar.
A mão que
assinou o papel…
A mão que
assinou o papel destruiu uma cidade
cinco
soberanos dedos tributaram a respiração,
de mortos
duplicaram o mundo, a meio cortaram um país:
estes cinco
reis provocaram a morte de um rei.
A poderosa
mão conduz a um ombro descaído;
Sofrem cãibras
as junturas dos dedos engessados.
Uma pena de
pato pôs fim ao morticínio
que tinha
posto fim às negociações.
A mão que
assinou o tratado engendrou febre,
e aumentou a
fome, e vieram gafanhotos:
grande é a
mão que sobre todos impera
com o
gatafunho de um nome.
Os cinco
reis contam os mortos, mas não acalmam
a crosta das
f’ridas nem a fronte afagam.
Há mãos que
regem a piedade, outras o céu:
só não as há
que vertam lágrimas.
Dylan Thomas, “The Hand That Signed the Paper”, in Twenty five Poems, trad. de David
Mourão-Ferreira
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