Axioma 1: O “significante flutuante” (Lévi-Strauss) ocupa na ordem política uma função essencial de transgressão, de heterodoxia, na medida em que a lei que regula a distribuição dos signos impostos pelos interesses do poder ou pelos usos da sociedade está sempre em atraso relativamente ao carácter totalizante daquele.
O antropólogo Marcel Mauss estabeleceu, no seu “Ensaio sobre
a Dádiva”, (1924) que as sociedades humanas se estruturam no princípio da dádiva,
que é a obrigação de dar, de receber e de retribuir, tanto no plano económico (bens
e mulheres) como no da linguagem (informações).
Esta troca faz-se através da linguagem, é de natureza simbólica,
sendo esta a instituinte da sociedade. A busca do elemento que explica o
princípio da dádiva foi buscá-lo Mauss à noção polinésia de mana.
Lévi-Strauss interpreta o mana em termos semiológicos, como um significante flutuante, puro produto
do pensamento, indeterminado, um excesso de significação que o homem ignora e
que vem progressivamente encontrando, nomeadamente pela ciência.
Esta inadequação entre o significante e o significado é um juízo
sintético a priori de todas as culturas, uma condição transcendental destas, que explica o seu funcionamento e as suas transformações
- da palavra mítica , da magia do xamã, da palavra do profeta, da criação
artística, da descoberta científica , do seu sistema económico e político.
E sempre que a complementaridade entre o significante-significado
se esbateu, triunfou o instituído, que se formalizou nos vários verbiários, coletes
de forças que, com pretensões totalizantes, confundiram a verdade com uma sua configuração determinada.
Exemplos não faltam: na filosofia, na dogmática religiosa, na ideologias da
ciência, da técnica ou doo mercado, as novas e nefastas idolatrias do mundo atual.
A compreensão da dádiva como o sistema de trocas básico da
vida social permite romper com o modelo dicotómico típico da modernidade, pelo qual
a sociedade ou seria fruto de uma ação planificadora do Estado ou do movimento
fluente do mercado. Para o que é necessário abrir campos de dissidência e de
heterogeneidade nos vários planos da vida cultural, da economia e da política.
Assim, o significante vazio dos nossos desejos pode ser
complementado com a invenção e a descoberta de novas significações – que fazem
aumentar a potência das nossas vidas, em liberdade. Mas estas significações devem
conduzir a uma materialização prática (política) de uma sociedade mais justa e
fraterna.
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