Parafraseando a frase do Discurso Contra Catilina, proferido por Cícero no Senado Romano, podemos dizer hoje o mesmo, em jeito acusatório, a outro personagem: “Até quando, ó Europa, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura?...”
O Diretório que pilota esta grande nau faz lembrar o
comandante do Costa Concórdia, esse palácio flutuante: quando o barco encalhou,
a primeira coisa que fez foi “dar às de vila Diogo”, abandonando o paquete à
sorte do destino, de mau augúrio, entretido que estava no momento do embate na
rocha com os seus delírios eróticos imediatos.
Agora, o naufrágio à
vista devia aconselhar outra prudência, que era possível: recuperar o espírito solidário
do Tratado de Roma e de Maastricht, rasgar o princípio da unanimidade das decisões
do Tratado de Lisboa, perceber que não é penalizando os países periféricos (os
mediterrânicos e a Finlândia) mas avançando para um projeto de mudanças
estruturais nas políticas bancária e financeira, mutualizando as dívidas
soberanas dos países em espiral recessiva (sobretudo a Grécia e Portugal),
avançando drasticamente a um ataque sem tréguas à especulação financeira no seu
espaço e procurando negociar com outros países, em escala crescente (por
exemplo, os Estados Unidos), o alargamento de processos de regulação externa que
minimizassem aquela.
A condição de todas as mudanças referidas é de natureza política:
a constituição de um Estado supranacional, que dialectizasse verticalmente as
políticas nacionais com o direito de cada Nação a participar, em pé de
igualdade, na tomada de decisão comum, de modo a salvaguardar os interesses nacionais,
protegendo os dos países mais fracos relativamente aos mais fortes.
Mas os sinais de mudança são muito tíbios, encontrando-se a sua
causa na falácia da crença de alguns ( a Alemanha é o grande exemplo) de que
sobretudo há que proteger os interesses nacionais
“über alles”: Por isso, a esperança de um porvir diferente está, no momento,
numa zona de sombra, dado o eclipse.
Não é de admirar que hoje, em Portugal, da centro-direita ao
centro esquerda, vozes se alarmam com o rumo da Europa, que a está a conduzir
ao abismo, facto que uma ampla corrente de opinião pública, de personalidades
(por exemplo, Viriato Soromenho Marques) e de formações partidárias (o melhor
exemplo é o Bloco de Esquerda).
É assim que o economista António Nogueira Leite (centro-direita)
afirma no programa Prós e Contras - “Ficar ou Sair do Euro? – do dia 15 do
corrente: “A europa é um foco de irracionalidade para si própria”. Contudo,
acha que Portugal não deve dar o passo, por princípio, de sair do Euro, seria regressar
a patamares de empobrecimento enormes.
Já o economista Ferreira do Amaral, com a mesma consciência da
irracionalidade existente, advoga, se nenhuns sinais surgirem depois das
eleições alemãs de Setembro, uma saída negociada do Euro.
Convido de novo o leitor a escutar o poema cantado de Carlos Drummond de Andrade “E agora José”, que já postei neste blog, no intuito de marcar que a morte maior é a abdicação ou ou resignação ao que tiver de ser.
Convido de novo o leitor a escutar o poema cantado de Carlos Drummond de Andrade “E agora José”, que já postei neste blog, no intuito de marcar que a morte maior é a abdicação ou ou resignação ao que tiver de ser.
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