O Relatório sobre as alterações
climáticas, divulgado ontem pelo organismo da ONU que tutela esta matéria,
afirma não haver dúvidas de que as recentes alterações do clima se deveram à
ação do Homem, figurando os combustíveis fósseis, base do desenvolvimento
industrial e da emissão de gases para a atmosfera, como os principais responsáveis.
O jornal Correio da Manhã de ontem
fez-se eco deste relatório, apresentando hoje uma entrevista sobre o assunto
com Francisco Ferreira, membro da Quercus. A relevância deste assunto, para nós
e para as gerações futuras, obriga-me a partilhar a opinião avisada daquele
militante ecologista:
"O cenário previsto para Portugal é dramático"
Correio da Manhã – Qual é o cenário
previsto para Portugal?
Francisco Ferreira – É
dramático. Temos de apostar seriamente na adaptação às alterações climáticas. É
uma zona de risco à escala mundial. Teremos menos chuvas e mais concentradas no
tempo, associadas a cheias. Mais ondas de calor e mais fogos. Mais gastos no
combate aos efeitos do aumento do nível do mar. Mais pobreza e menor
biodiversidade.
Estamos preparados?
Temos de concretizar o plano
estratégico de adaptação às alterações climáticas. O desafio é aumentar a
produção e manter os níveis atuais de emissão de gases com efeito de estufa.
A que se deve a pausa no aquecimento do
planeta?
Não há verdadeiramente uma pausa.
Algumas personalidades nos EUA – conhecem-se quem são, têm interesses na indústria
dos combustíveis fósseis – querem passar essa ideia.
Então como se explica?
É um fenómeno conhecido. O aquecimento,
combinando o verificado no ar e oceano, continua sem parar. O que se assiste é
a que o calor do ar à superfície está a ser absorvido pelo oceano. Em breve
será o contrário.
Mesmo assim têm dúvidas...
A indústria dos combustíveis fósseis,
como petróleo e carvão, é muito poderosa. Os dados, apresentados e validados
por centenas de cientistas, são reconhecidos até ao nível político.
Quando é para decidir tudo falha.
Porquê?
Uma coisa é reconhecer o problema.
Outra é agir. Os políticos reconhecem o aquecimento global. No entanto, os
efeitos do aquecimento global são a longo prazo: 30, 40 ou 80 anos. Os ciclos
políticos têm uma dimensão muito diferente das alterações climáticas. Estamos
muito céticos que na cimeira de Paris se chegue a um acordo.
(cf. Correio da Manhã, entrevista a
Francisco Ferreira, 27 de Setembro de 2013)