Almada Negreiros é o autor das gravuras incisas existentes
nos três espaços da Cidade Universitária de Lisboa: a Faculdade de Direito, a
de e Letras e a Reitoria. Foi uma obra encomendada pelo Estado Novo, datada de
1961. Assim, e para além da qualidade estética das mesmas, há uma clara
intenção de nobilitar aqueles espaços do saber e de aí impregnar marcas de
exaltação do regime, consagrando a sua soberania transcendente e a exigência de
uma obediência absoluta por parte dos súbditos. O regime, após o sobressalto de
Delgado e com uma guerra colonial a surgir, precisava de legitimar pela arte a
sua autoridade, e o grande Almada Negreiros prestou-lhe esse serviço. Como
prova, transcrevo o texto que se encontra no pórtico da Faculdade de Direito,
ao fundo do lado esquerdo (para quem entra), retirado da Carta de S. Paulo aos
Romanos (13, 1-3):
omnis anima
potestatibus sublimioribus subdita sit: non est enim potestas nisi a Deo quae
autem sunt a Deo ordinatae sunt. Itaque qui resistit potestati Dei ordinationi
resistit qui autem resistunt ipsi sibi damnationem acquirunt nam principes non
sunt timori boni operis sed mali
Ad Romanos, XIII, 1-3
Tradução:
Todo o homem se submeta às autoridades constituídas, pois não
há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por
Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade, opõem-se à ordem
estabelecida por Deus. E os que se opõem
atrairão sobre si a condenação. Os que governam incutem medo quando se
pratica o mal, não quando se faz o bem.
S. Paulo, Epístola aos Romanos, 13, 1-3
Este texto é emblemático do conjunto da obra de Almada, e
aparece no filme Verdes Anos de Paulo Rocha (1963), usada como referência da
opressão política a que estão sujeitos as vidas dos protagonistas (dois jovens de baixa condição social), onde o amor
não acontece e os sonhos de uma vida melhor são uma miragem que a realidade asfixiante
do quotidiano calca aos pés. Há sempre alguém, mesmo nos tempos de opressão,
que sabe dizer não, e Paulo Rocha pôs-se do lado certo.
Fachada Principal da Faculdade de Direito de Lisboa |
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