segunda-feira, 11 de março de 2013

O brio do amor e o orgulho do cavaleiro, no filme A severa (1931)


CINEMA PORTUGUÊS - «A SEVERA» - VIDEO 7 por pborgesalmeida

O filme a Severa, de 1931, de Leitão de Barros, com música de Frederico de Freitas, devia despertar interesse aos cinéfilos, pelo seu valor enquanto objeto estético, sendo também importante para o estudo do momento específico da cultura em que surgiu.
 Baseia-se narrativa de Júlio Dantas A severa (1901), que conta a história de um triângulo amoroso, ocorrido no século XIX, por um fidalgo (D. João, o conde de Marialva), dividido entre a fidelidade à esposa (a Marquesa de Seide) e a Severa, mítica e insinuante cigana que a lenda consagrou como fadista desditosa, pois morreu aos 26 anos.
Para além da descrição crua da violência inerente à tourada, que se mostra no sangue e quebranto do forcado depois da lide, interessa-me destacar a cena da tourada a cavalo, pois aí surge o confronto entre as duas razões que fazem mover a ação: o desejo do amor (no caso a cigana pelo marido) e o desejo da realização perfeita da obra (cavaleiro). Este confronto aparece quando, após o marido da cigana, ante a falta de coragem do cavaleiro para dominar o touro, decide ir à arena e matá-lo, tendo ficado ferido e sendo retirado em braços. Então, o cavaleiro dirige-se-lhe para lhe bater, obrigando a cigana a, com palavras veementes, defender o marido da ofensa. O andamento final do Fado da Severa (cantado noutra cena por Dina Teresa), sublimando a grandeza do amor, pontua este momento orquestralmente:

Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti.
 
Soberba esta cena do filme e rica de implicações!

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