quarta-feira, 27 de março de 2013

Viva o Teatro que nos desperta

O teatro é talvez a primeira forma estética do homem apreender o sentido ontológico do real, em função do qual pode interpretar o seu lugar no mundo.
Com os gregos clássicos, a arte teatral serviu à cidade de espelho através do qual ela podia pensar-se enquanto humanidade de um viver comum, de cooperação e de conflito, sob a égide do Destino e do olhar, hostil ou benevolente, dos deuses.
Com o cristianismo, durante a Idade Média, a representação teatral tornou-se, no rito, a linguagem da celebração dos mistérios de Deus, ou foi usada com o intuito de censurar os pecados e contribuir para a conversão, no teatro religioso ao serviço do projeto da Igreja.
Mas a par deste teatro religioso, foi surgindo um teatro profano, no princípio ligado à corte mas que rapidamente se difundiu pela sociedade, nas feiras e no espaço das cidades. Esta forma, que no princípio surgiu como diversão dos cortesãos, foi-se tornando pouco a pouco mais independente da corte, entrando por vezes em confronto com os poderes instituídos.
Criou-se desde aqui uma relação ora de mais proximidade e de serviço ora de mais distância e oposição entre o teatro e o poder, consoante as conjunturas e os autores em presença. Mas com a modernidade afirmou-se um teatro de raiz popular, à margem do poder.
Em Portugal temos um documento, datado de 1193, de uma doação a dois jograis no reinado de D. Sancho I, que diz o seguinte: “” Nós, mimos acima referidos, devemos ao Senhor nosso Rei um arremedilho para efeito de compensação“. “Arremedilho” é a imitação burlesca em que se ridiculariza alguém macaqueando o seu semblante, e, segundo Luciana Stegano Pichio, é um género dramático típico de Portugal, que pode ter-se inspirado nas representações satíricas dos goliardos. Esta forma artística foi penetrando para além do espaço da corte, nas feiras e espaços urbanos, popularizando-se e assumindo como instrumento de flagelação das autoridades e de afirmação da dignidade dos oprimidos.
Este teatro satírico, que nasceu com as nossas origens, continua a ser uma necessidade ingente para estes tempos de crise, que esmaga quase todos para benefício de mui poucos.
Viva o teatro neste dia da sua celebração mundial!


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