Publicada em 2009, em
inglês, a Almeida procedeu neste ano à tradução e edição desta obra. O
perfil de publicações da editora, pautado por critérios de relevância
científica, mais uma vez foi certeiro na escolha.
O apreço pelo texto em causa
tem-se manifestado em vários quadrantes, não apenas por conceituados académicos
e intelectuais (Arrow, Nobel da Economia, e Hilary Putnam, filósofo) mas também
por parte de personalidades políticas destacadas e de sectores de público mais
esclarecido.
Com efeito, a obra sumariza
e amplifica análises (economia de mercado, pobreza, desenvolvimento, teoria da
escolha social, direitos humanos, razão prática, dinheiro e valor, etc.) que o
autor tem prosseguido desde a publicação do seu primeiro artigo (“Games,
Justice and General Will”, in Review Mind, September, 1965).
A investigação sobre a ideia
de justiça visa construir uma teoria dotada de fundamentação
empírico-existencial e simultaneamente dotada de universalidade e plasticidade
que a torne operatória na prática social e política.
Para alcançar este objetivo,
o método seguido por Sen não é especulativo mas científico, recorrendo, para
além da lógica argumentativa fundamentada e consequente, aos instrumentos de
análise da matemática (por exemplo, “o dilema do prisioneiro” da teoria dos
jogos é usado no primeiro artigo referido e aparece na obra de me ocupo com a
mesma estrutura, embora com outra roupagem, para o mesmo fim) de modo a mostrar
a socraticamente os limites e inconsequência das respostas dadas: o modelo de
justiça de Rawls; a teoria da escolha racional da escola neoclássica; os
limites do instrumento de análise custo benefício da teoria neoclássica são
alguns dos temas.
O método recolhe em primeiro
lugar as perspetivas e teorias constituídas oriundas de várias áreas do saber
(a filosofia política, a economia, a sociologia, a literatura, o direito);
seguidamente submete a análise problematizante esse legado, invalidando ou
reconhecendo a sua pertinência apenas limitada; e finalmente compõe um novo
saber, consistente, verdadeiro e extensivo à condição humana no seu
enraizamento natural.
A interdisciplinaridade do
método de investigação, o plano de imanência em que se efetiva, a natureza
fundante do buscado e o resultado alcançado são marcas evidentes de que estamos
em presença de uma obra de filosofia social e política original.
A objetividade, coesão
interna e fecundidade heurística fazem dela um princípio regulador que deve
animar toda a ação humana, sobretudo daqueles que estão no centro das grandes
decisões que interferem na vida do outro (homem ou natureza). Para que a
justiça tenha uma tradução efetiva na vida dos homens.
Pelo significado de que se
reveste a opinião Hilary Putnam ( o maior representante atual da corrente
de filosofia analítica norte-americana), que retirei do site de apresentação da
obra da Almedina, passo a transcrevê-la:
“Creio que A ideia de Justica de
Amartya Sen é uma das contribuições mais importantes para o tema desde que
apareceu a Teoria de Justiça de Rawls, em 1971. A abordagem desse livro foi
tentar trabalhar uma base para um Estado-nação idealmente justo.
Tendo
perfeito conhecimento do caminho de rutura trilhado por Rawls, Sen – laureado
com o prémio Nobel em Economia e teoria da escolha social [em 1986], e um
profundo filósofo social –, com esta abordagem ‘transcendental’, chama a
atenção para problemas sérios e argumenta que aquilo que precisamos com
urgência, neste nosso mundo conturbado, não é de uma teoria de um Estado
idealmente justo, mas de uma teoria que possa fornecer a base para juízos, como
a justiça comparativa, juízos que nos digam quando e por que razão estamos a
aproximar-nos ou a distanciarmo-nos da concretização da justiça num mundo
globalizado.
Sen traça
com o seu conhecimento, em todos os campos que menciono, ideias básicas para a
tal teoria. Além disso, discute, com iluminado pormenor (e histórica e
trans-culturamente informado), questões fundamentais relacionadas com a
democracia, os direitos humanos, o desenvolvimento económico e a natureza e os
limites da democracia – a objetividade ética.
Esta é uma
obra que merece o maior número de leitores.”
Procurarei
em próximo post apresentar alguns lineamentos desta obra. Para já, sugiro a leitura do artigo "Quality of Life:India vs. China".
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