A frase do título consta no Caderno da judia Irène Némirovsky, nas notas manuscritas sobre o estado da
França durante a Ocupação pelos nazis, no âmbito do seu projeto de escrita do
romance Suite française.
Este fato revela que a autora tinha a intenção de dar
a ver, na obra que estava a escrever, os acontecimentos desse período de exílio
e de extermínio dos judeus.
Por esta razão, a obra é um
testemunho de uma testemunha repassado de pungente verdade humana, pela
vivência inerente à imersão da autora no espaço e no tempo do vórtice da
destruição.
Quem foi Irène Némirovsky?
Nascida em Kiev em 1903, Irène Némirovsky era filha
dum banqueiro ucraniano e foi forçada ao exílio após a Revolução Russa. Quando,
depois de meses de peregrinação pela Finlândia e Inglaterra, chega a França,
desejou virar a página e fruir a existência.
Amante da literatura, publicou em 1929 o seu primeiro
romance, David Golder, tendo imediato reconhecimento por parte de vários escritores
da época: Jean Cocteau, Françoise Sagan, Drieu La Rochelle… Outras obras se
seguirão.
Tomando consciência de que a espada de Dâmocles se
iria abater sobre a sua cabeça, decide continuar a escrever como testemunho do
que observa à sua volta e do que ela própria experiencia.
É assim que nasceu o seu romance Suite française, que permaneceu manuscrito até ser descoberto em
1975, sendo depois publicado em 2004 por iniciativa de uma das filhas, Denise
Epstein.
A primeira parte, “Tempestade em junho”, é uma
narrativa que apresenta a odisseia de várias famílias em fuga, descrevendo as
relações sociais entre os personagens e as suas diferentes maneiras de estar e
valorar: o fanatismo, a ganância, o culto da aparência, o egoísmo, o
esteticismo, a inocência…
A segunda parte da Suite
française, “Dolce”, situa-se no espaço de uma aldeia ocupada. As relações e
os sentimentos de ocupantes e de ocupados são passados em revista: há repulsa
misturada com fascínio de ambos os lados, o gozo sádico de desejar a morte do
outro na sua diferença é a nota dominante.
Irène Némirovsy viria a morrer gazeada em Auschwitz,
em Agosto de 1942. Permanece o seu testemunho dilacerante para que a memória do
irreparável nos continue a desafiar à construção de um mundo onde cada homem,
por estar no rastro da transcendência, nos obriga a respeitar de modo efetivo
todos os seus direitos inalienáveis.
A obra encontra-se publicada pela Companhia das
Letras. Reenvio para o seu site, onde se pode ler o seguinte trecho .
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