sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

“O festim da aranha”, por Alan Greenspan (Presidente do FED): paródia


1ºAndamento: o festim no seu processo

Havia um jardim. A um canto, semi-escondido, uma aranha tecia a sua teia na vertical, para apanhar metodicamente os insetos dançarinos. O festim brilhava-lhe nos olhos. Mas algum descuido ou imprevisto se abateu sobre a sua estratégia: ela fica presa na teia e vai ser devorada pelo louva-a-deus.
Assim se desenvolve o ballet pantomima de Roussel, criado em 1913, grandiosa alegoria sarcástica dos apetites humanos. Este tema já fora tratado nas Metamorfoses de Ovídio (VI, 1-145): a perfeição da arte de Arachne era um desafio ao brio da deusa Minerva, que se vingou matando-a.
Já nos nossos dias, Alan Greenspan deu à estampa, sob a forma de lei, um pastiche destas obras. Mas agora a notação da música aparecia em dólares e a pantomima era para ser representada, acto contínuo, no espaço virtual em que se movem, como fantasmas, os vários agentes dos mercados financeiros: bancos, companhias de seguros, firmas de investimento, aplicações imobiliárias e similares.
Mas quem é Alan Greenspan? É um economista norte-americano que ocupou o cargo de Presidente da Reserva Federal, desde 1987, por nomeação de Reagan, sendo sucessivamente reconduzido por Clinton e por Bush, até 2006, o que totaliza 19 anos.
Durante este período deve-lhe todo um vasto leque de decisões que foi tomando no sentido contribuir para a liberalização dos mercados, de modo a facilitar a concorrência das empresas americanas no mercado mundial.
No fim deste período, escreveu as suas Memórias, que surgiram em livro intitulado A era da turbulência, com data de 2007, que narra a história do “festim da aranha” em que participou ativamente, do qual retiro o seguinte excerto:
“No Outono, Larry Summers e eu tivemos de resolver uma guerra de competências entre o Tesouro e o FED. Fora desencadeada por uma moção do congresso que propunha a revisão das leis que governavam o setor financeiro americano: bancos, companhias de seguros, firmas de investimento, aplicações imobiliárias e similares.
Depois de anos de preparação, a “Lei de Modernização dos Serviços Financeiros” ( Finantial Services Modernization Act) tomou a forma na Lei Glass Steagal [já referido no post “as boas intenções e a especulação financeira”], uma lei do tempo da Depressão que limitava a possibilidade de os bancos e as companhias de seguros entrarem em negócios comuns.
Os bancos e as outras empresas pretendiam diversificar-se, queriam, por exemplo, instalar lojas em que aparecessem diversos serviços financeiros. Argumentavam estar a perder terreno para concorrentes estrangeiros, especialmente para os “bancos universais” europeus e japoneses, que não estavam sujeitos a restrições deste tipo. Eu concordava que a liberalização destes mercados já devia ter sido feita havia muito tempo.
(…) A versão da proposta de Reforma apoiada pelo Senado atribuía a responsabilidade ao FED. A versão da Câmara dos Representantes favorecia o Tesouro. (…) As equipas do FED e do Tesouro iniciaram as negociações, mas não se entenderam. Então, dá-se o encontro de Larry e de Greenspan: “Temos de resolver isto!”
(…) O Tesouro e o FED elaboraram um projeto de lei conjunto e fomos ao Capitoll Hill nesse mesmo dia: o projeto foi aprovado.
Os historiadores considerarão a Lei da Modernização dos Serviços Financeiros como um marco na legislação reguladora de empresas e eu nunca deixarei de a recordar como um momento de tomada de decisões que, embora não publicitado, seria digno de alguns elogios.
A expansão continuou num crescendo (…) no fim de Dezembro o valor do mercado de ações NASDAQ quase duplicara em dois meses (o Dow cresceu 20%) Na sua maioria, as pessoas que haviam investido em ações sentiam-se contentes e tinham motivos para isso”
(Cf. Alan Greenspan, A era da Turbulência, Ed.Presença, 2007, pp. 220-1)

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