2ºAndamento: o festim estragado
O narrador a
braços com o seu malogro faz a seguinte confissão:
“Eu fiz um erro ao pensar
que as organizações movidas pela busca do seu próprio interesse privado, em
particular os bancos e as outras organizações deste género, eram, por esta
razão, as melhores colocadas para proteger os seus acionistas e os seus
investimentos.
[…] Algo que
parecia um edifício muito sólido, e mesmo um pilar fundamental da concorrência
e dos mercados livres, desmoronou-se. Eu fiquei chocado.
[…] Descobri
uma falha na minha ideologia. Eu não sei em que grau ela é significativa e
permanente, mas fiquei muito angustiado por isso. […] Eu descobri um erro no
modelo que eu pensava que explicava a estrutura fundamental do funcionamento do
mundo tal como ele é."
« I made a mistake in presuming that self-interest of
organizations, specially banks and others, were such is that they were best
capable of protecting their own share-holders and their equity in the firms […]
So the problem here is something which looked to be a
very solid edifice,
and, indeed, a critical pillar to market competition and free markets, did
break down […] I found a flaw
[in my ideology].
I don’t know how
significant
or permanent it is, but I have been very distressed by that fact […] found a flaw in the
model that I perceived is the critical functioning structure that defines how the
world works, so to speak. »
(Discurso de
Alan Greenspan em audição numa Comissão Parlamentar do Congresso, de 23 de Outubro
de 2008)
Esta
autocrítica de Greenspan acontece quando a crise financeira de 2008 estava já
em marcha. Esta crise vem colocar, no terreno do pensamento e da política
económica, a questão da legitimidade da “revolução liberal” posta em marcha a
partir de Thachter (1979) e de Reagan (1981), de que Greenspan foi um
protagonista privilegiado pelo cargo que exerceu na Reserva Federal dos EUA
durante cinco mandatos presidenciais (de 1987 a 2006). Este protagonismo pode
ver-se a dois níveis.
Por um lado,
Greenspan é um ideólogo militante, um partidário do liberalismo (na versão neo)
e da eficiência dos mercados, considerando nefasta toda a intervenção do Estado
neste domínio. Por isso diz: “nada na regulação federal a torna superior à regulação
dos mercados”.
Por outro
lado, Greenspan teve um papel central à frente da Reserva Federal na desregulação
do sistema financeiro, de que a Lei da Modernização dos Serviços Financeiros é
um exemplo maior.
O saldo extremamente
negativo deste ciclo mostra que as premissas em ele assentou são erradas, logo não
servem de base a um crescimento económico estável, favorável à edificação de
uma sociedade mais justa. Como consequência, continuar a pensar que as crises
financeiras são anomalias reguláveis no âmbito do mercado é esquecer a natureza
estrutural daquelas. Assim, só através da existência de uma instituição
regulatória, em permanente processo de informação e de avaliação, é possível o
exercício de um controlo do sistema que o contenha dentro de limites aceitáveis.
Sobre o
legado questionável de Alan Greenspan, pode ler-se online o paper do economista
Thomas Palley: [PDF]The Questionable Legacy of Alan Greenspan.
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